Os canais de acesso ao Porto de Paranaguá podem estar afetados por fenômenos
climáticos globais como o El Niño e o La Niña. El Nino é o aquecimento
anormal das águas do Oceano Pacífico Tropical, enquanto o La Niña é o
esfriamento anormal das mesmas águas.
O processo de assoreamento ou transporte de sedimentos nos canais de acesso
ao Porto é um fenômeno natural, mas existe a possibilidade de estar mais
intenso com as mudanças climáticas que afetam o Paraná nas últimas semanas,
segundo especialistas.
O professor do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Eduardo Felga Gobbi, explica que no decorrer deste mês de
julho observou-se que as águas superficiais permaneceram mais aquecidas em
praticamente toda a extensão do Oceano Pacífico Equatorial, onde ocorreram
anomalias e a temperatura da superfície do mar ficou até quatro graus acima
do normal, próximo à Costa Oeste da América do Sul.
“As variações de ventos e ondas, além das chuvas em todo o Atlântico Sul,
podem ser fortemente afetadas por fenômenos como El Niño e La Niña. Como
estas variações interferem nas correntes locais e regionais, a movimentação
de sedimentos também pode ser influenciada, podendo, inclusive,
intensificar o assoreamento do Canal da Galheta, principalmente na região
mais crítica da embocadura da Baía de Paranaguá”, explica o professor Gobbi.
O diretor-presidente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina
(APPA), Luiz Henrique Dividino, conta que neste ano verifica-se um
assoreamento prematuro no setor Sul do Canal da Galheta externo. Além
disso, na altura da boia 4A, foi constatado um processo de estrias de areia
de fundo. O mesmo ocorre no setor interno, na altura da boia 11, o que tem
trazido preocupações aos técnicos APPA.
“Por enquanto, estes eventos prematuros não estão oferecendo riscos ou
restrições à navegação. Porém, se identificarmos qualquer progressão deste
assoreamento, a APPA tomará as providências cabíveis no sentido de garantir
a segurança da navegação”, enfatizou Dividino.
DRAGAGEM – Nos últimos anos, A APPA promoveu um conjunto de campanhas
contínuas de dragagem de manutenção que possibilitaram plena acessibilidade
dos canais de navegação, que há anos estavam assoreados. Neste momento,
está em curso a contratação da terceira fase do Programa de Dragagem
2015/2016, que trará ainda mais segurança à navegação.
IMPACTOS DO CLIMA – O diretor de Meio Ambiente da Administração dos Portos
de Paranaguá e Antonina, Marco Aurélio Ziliotto, explica que também está em
processo de contratação um estudo técnico aprofundado para diagnosticar o
impacto e a vulnerabilidade das mudanças climáticas sobre as correntes
marítimas.
“O projeto trata da contribuição de sedimentos e contaminantes das bacias
hidrográficas para o Complexo Estuarino de Paranaguá e suas relações com as
atividades portuárias ligadas à navegação e aos processos de dragagens”. De
acordo com ele, um dos desafios do estudo é saber se a causa da
contribuição de sedimentos é natural ou antrópica (causada por
interferência humana) e quais seriam as medidas que a Appa poderia adotar
para atenuar este processo.
O estudo também abordará quais bacias hidrográficas desaguam no complexo
estuarino de Paranaguá e contribuem com porte de sedimentos. Será avaliado
ainda quanto, efetivamente, as cidades litorâneas e os portos contribuem
para a contaminação do Complexo Estuarino. O trabalho será coordenado pelo
Centro de Estudos do Mar (CEM), da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
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*Ceres Battistelli*//*Pedro Brodbeck*//*André Kasczeszen*//